O hábito sutil que exclui uma parte da sociedade
Este Blog aborda o preconceito contra pessoas mais velhas, um etarismo sutil que se manifesta em atitudes cotidianas de impaciência.
Essa intolerância com o ritmo mais lento dos idosos leva à sua exclusão social.
O texto sugere que esse comportamento é resultado de uma sociedade apressada e de um medo coletivo de envelhecer.
Para um futuro mais justo, é fundamental respeitar o tempo dos mais velhos, valorizar sua experiência e reconhecer que envelhecer é um privilégio.
A forma como tratamos os idosos hoje pode determinar como seremos tratados amanhã.
A pressa em que vivemos pode nos levar a cometer deslizes invisíveis, mas com grande impacto social.
No dia a dia, um comportamento comum e muitas vezes considerado inofensivo está, na verdade, silenciando e afastando uma parcela importante da população: as pessoas mais velhas.
A intolerância com o tempo alheio, a impaciência com um passo mais lento ou uma conversa mais pausada, revela um preconceito sutil, mas profundamente enraizado.
Esse tipo de atitude, conhecida como etarismo, se manifesta de formas diversas, como interromper uma fala, responder de forma abrupta ou demonstrar incômodo com a lentidão.
Por trás de cada suspiro de impaciência, existe a ideia equivocada de que a velocidade é a única medida de eficiência.
Com isso, os mais velhos, que trazem consigo uma riqueza de experiência e vivência, acabam sendo tratados como um obstáculo em vez de um recurso valioso.
A sociedade, ao priorizar a juventude e a agilidade, acaba por desumanizar quem já viveu mais tempo.
Esse comportamento reflete um medo coletivo de envelhecer e, ao ignorar os mais velhos, rejeitamos simbolicamente o nosso próprio futuro.
O resultado é a marginalização de uma geração inteira, forçando-a a se adaptar a um ritmo que não é o seu ou, pior, a se isolar para não ser um "estorvo".
A valorização da experiência
Para construir um futuro mais inclusivo e justo, é essencial rever nossas atitudes.
O primeiro passo é o reconhecimento de que o tempo de cada um é diferente e que a velocidade não é sinônimo de valor.
É preciso aprender a ouvir com atenção, a ter paciência e a valorizar o conhecimento acumulado ao longo dos anos.
A experiência dos mais velhos é uma fonte inestimável de sabedoria, que pode enriquecer a nossa vida e a de toda a comunidade.
Envelhecer é um privilégio.
A maneira como tratamos as pessoas mais velhas hoje é um reflexo direto do tipo de sociedade em que queremos viver amanhã.
Ao combater esse preconceito silencioso e abrir espaço para o diálogo intergeracional, estamos não apenas respeitando os outros, mas também construindo um futuro mais digno para nós mesmos.
A percepção e o combate ao etarismo vêm crescendo significativamente na sociedade, saindo de um tema de nicho para uma discussão mais ampla.
Se antes o preconceito contra o envelhecimento era visto como algo natural e quase inevitável, hoje ele é reconhecido como uma forma de discriminação que precisa ser combatida.
Diversas frentes de atuação mostram essa mudança.
Ações governamentais e legislativas
A questão do etarismo tem chegado aos espaços de poder.
O Brasil possui a Política Nacional do Idoso e o Estatuto do Idoso, mas a discussão agora se aprofunda com propostas de lei específicas para combater o preconceito e a discriminação de pessoas com base na idade.
Há iniciativas para criar observatórios de monitoramento de casos, programas de apoio psicológico e jurídico para as vítimas e a inclusão de disciplinas sobre o tema na capacitação de profissionais de saúde, educação e assistência social.
Além disso, projetos buscam promover a inclusão digital e a entrada de idosos no mercado de trabalho formal.
O papel do mercado de trabalho
O ambiente corporativo, que historicamente era um dos principais agentes do etarismo, também está mudando.
Empresas estão cada vez mais conscientes de que a diversidade geracional é um fator de inovação e produtividade.
Algumas ações já em andamento incluem:
* Programas de contratação 50+: vagas afirmativas e processos seletivos focados em competências, não em idade.
* Mentorias reversas: onde profissionais mais jovens ensinam novas tecnologias aos mais experientes, enquanto os mais velhos compartilham sua bagagem e visão estratégica.
* Treinamentos de conscientização: para que todos na empresa entendam o que é etarismo e como combatê-lo.
Movimentos sociais e culturais
O tema está ganhando espaço na mídia, em campanhas educativas e em movimentos sociais.
A conscientização pública é impulsionada pela maior representatividade de pessoas mais velhas em propagandas, filmes e nas redes sociais, quebrando estereótipos.
O debate sobre a "velhofobia" – o medo e a aversão ao envelhecimento – é cada vez mais aberto.
A convivência e a interação entre as gerações são vistas como uma das formas mais eficazes de combater o preconceito.
Ações comunitárias, projetos sociais e até mesmo atividades culturais, como aulas de dança ou oficinas de artesanato, incentivam a troca de experiências e promovem o pertencimento social, mostrando que a vida e a contribuição não têm idade para acabar.
A ação política em relação ao etarismo vem evoluindo, saindo de uma abordagem genérica para um foco mais direto no combate ao preconceito.
No Brasil, essa atuação se manifesta em diferentes esferas.
Legislação e políticas públicas
O principal marco legislativo é o Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/2003), que assegura uma série de direitos às pessoas com 60 anos ou mais.
Embora não use o termo "etarismo", o estatuto criminaliza a discriminação, a humilhação e o impedimento de acesso a direitos por motivo de idade, com penas que variam de seis meses a um ano de reclusão, além de multa.
Atualmente, o foco da política pública tem se expandido.
Existem projetos de lei no âmbito federal e estadual que buscam:
* Aprovação de leis específicas: como o projeto de lei (PL 3549/2023) que propõe a criação de um Programa Nacional de Prevenção ao Etarismo, visando a conscientização e o apoio às vítimas.
* Combate à discriminação no trabalho: propostas que proíbem a fixação de limite máximo de idade para contratação e estabelecem medidas para promover a inclusão de profissionais mais velhos no mercado.
* Inclusão social e digital: programas para garantir que pessoas mais velhas tenham acesso a tecnologias e a oportunidades de educação e capacitação, evitando seu isolamento.
Ações e programas governamentais
Além das leis, há iniciativas do governo que buscam colocar as políticas públicas em prática.
Órgãos como o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania e secretarias estaduais e municipais promovem debates, audiências públicas e campanhas de conscientização sobre o tema.
Um exemplo prático é o Disque 100, canal de denúncias que também recebe casos de violação de direitos da pessoa idosa.
Essa ferramenta permite que a população reporte anonimamente situações de violência, negligência ou discriminação, o que serve como um termômetro para a ação do poder público.
Em resumo, a classe política está gradualmente deixando de tratar o envelhecimento apenas como uma questão de assistência social ou previdenciária e passando a encará-lo como uma pauta de direitos humanos, com foco na dignidade e na plena participação das pessoas mais velhas na sociedade.
Sim, podemos aprofundar o assunto.
Do papel à prática: como as leis saem da teoria
Além da criação de leis e programas, a efetividade das ações políticas depende da sua aplicação.
Essa é a fase em que os políticos precisam garantir que as propostas se traduzam em mudanças reais na vida das pessoas.
Na esfera municipal
* Criação de Conselhos Municipais do Idoso: esses órgãos são cruciais para fiscalizar a aplicação das políticas públicas e garantir que as necessidades locais sejam atendidas. Eles agem como uma ponte entre a população e o poder público.
* Projetos de Cidades Amigas do Idoso: iniciativas que buscam adaptar o ambiente urbano (parques, calçadas, transporte público) para que seja mais acessível e seguro para pessoas mais velhas, promovendo sua autonomia.
No âmbito federal
* Fiscalização de empresas: o governo pode atuar fiscalizando empresas para garantir que não haja discriminação em processos seletivos ou no ambiente de trabalho.
* Incentivos e sanções: a criação de incentivos fiscais para empresas que contratam e investem em talentos de todas as idades, assim como a aplicação de sanções para aquelas que praticam o etarismo, são mecanismos poderosos.
O papel do eleitor
A participação política não se limita aos políticos.
Para que o tema continue em pauta e as ações se tornem mais efetivas, é fundamental o engajamento dos cidadãos.
O eleitor pode pressionar seus representantes, fiscalizar a aplicação das leis e cobrar mais investimentos em políticas de inclusão.
A forma como os políticos agem com o tema é um reflexo direto da importância que a sociedade dá a ele.
Quanto mais o assunto for discutido e cobrado, maior a probabilidade de que ele seja tratado como uma prioridade, gerando políticas públicas mais robustas e eficientes.
Apesar dos avanços na conscientização, a luta contra o etarismo ainda exige melhorias significativas em diversas frentes.
Para que a inclusão das pessoas mais velhas seja completa, é fundamental que a sociedade trabalhe em três áreas principais:
Conscientização e Mudança Cultural
A maior barreira a ser superada é a mentalidade.
O etarismo está profundamente enraizado em estereótipos negativos que associam a idade a fragilidade, falta de capacidade ou desinteresse.
Para mudar isso, é preciso:
* Educação para todas as idades: Incluir o tema da diversidade geracional em escolas e universidades, ensinando desde cedo sobre a importância do respeito e da valorização de todas as fases da vida.
* Representatividade na mídia: Desconstruir a imagem antiquada dos idosos em novelas, filmes e publicidade, mostrando-os como pessoas ativas, produtivas e com sonhos, quebrando os clichês.
* Diálogo intergeracional: Incentivar mais programas e espaços onde jovens, adultos e pessoas mais velhas possam interagir e trocar experiências, como projetos de mentoria reversa ou oficinas comunitárias.
Ações Estruturais e Políticas Públicas
Embora existam leis, sua aplicação e alcance precisam ser mais efetivos.
O desafio é traduzir a legislação em ações concretas que beneficiem a população.
É necessário:
* Fiscalização mais rigorosa: Reforçar a fiscalização do cumprimento das leis que proíbem a discriminação etária no mercado de trabalho e em serviços públicos.
* Incentivos para empresas: Criar políticas de incentivo (como benefícios fiscais) para empresas que contratam e investem no desenvolvimento de talentos maduros, reconhecendo a experiência como um ativo.
* Saúde e bem-estar: Aprimorar o sistema de saúde para além do tratamento de doenças, focando na promoção do envelhecimento ativo, com programas que incentivem a atividade física, a saúde mental e o convívio social.
Inclusão Tecnológica e Digital
A aceleração digital tornou-se um grande fator de exclusão.
A falta de acesso e de conhecimento em tecnologia isola muitas pessoas mais velhas da sociedade e do mercado de trabalho.
Para reverter esse quadro, é essencial:
* Acessibilidade digital: Desenvolvedores e designers precisam criar interfaces mais simples e intuitivas para aplicativos e sites, considerando as necessidades dos usuários de todas as idades.
* Programas de capacitação: Oferecer cursos de alfabetização digital gratuitos e acessíveis, que ensinem a usar smartphones, computadores e serviços online de forma segura e eficaz.
* Políticas de acesso: Aumentar a disponibilidade de internet em locais públicos e comunitários, garantindo que a tecnologia seja uma ferramenta de inclusão, não de segregação.
O avanço real sobre o tema depende de um esforço coletivo, que vai desde o combate ao preconceito individual até a criação de políticas públicas eficazes e de tecnologias inclusivas.
Mário Quintana:
"Nascer é uma possibilidade.
Viver é um risco.
Envelhecer é um privilégio!"
Salmos 90:12:
"Ensina-nos a contar os nossos dias para que o nosso coração alcance sabedoria."
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