O QUE HÁ PARA COMEMORAR NO DIA DO PROFESSOR, AFINAL?
Link de origem - iclnoticias.com.br
-O BRILHO NO OLHAR QUE ACENDEU A VOCAÇÃO
O aroma de giz e papel velho sempre foi o perfume favorito de Ana.
Não o cheiro da modernidade digital, mas a fragrância acolhedora da sabedoria acumulada.
Quando se formou em História, aos 22 anos, as palavras "Ao Mestre com Carinho" ressoavam com um significado quase sagrado.
Ela não via a docência como um emprego, mas como o ato de acender a primeira faísca no intelecto de alguém.
Ana lembrava-se do seu primeiro dia, a sala cheia de rostos curiosos, e a sensação de estar no centro do mundo, pronta para mostrar a seus alunos que o passado era a chave para decifrar o futuro.
Ela sonhava em criar cidadãos críticos, sujeitos pensantes, e não meros repetidores de conteúdo.
A vocação era um fogo que queimava com paixão, a certeza de que a educação era o único caminho para a soberania de uma nação.
Por muitos anos, essa energia a sustentou, mesmo quando a escola pública onde lecionava na periferia de São Paulo não tinha estrutura, mesmo quando o salário mal pagava o aluguel.
A recompensa era o brilho nos olhos de um aluno que finalmente compreendia a Revolução Francesa.
Esse era o seu "Dia do Professor" particular, acontecendo todos os dias, antes que a realidade do sistema a atingisse com força total.
-ENTRE A LITERATURA E AS PLANILHAS VAZIAS
Com o passar dos anos, o fogo da vocação começou a ser sufocado por uma montanha de papelada e exigências burocráticas.
A Professora Ana, que passava madrugadas preparando aulas sobre a Inconfidência Mineira, agora dedicava o mesmo tempo a preencher relatórios de "produtividade" em plataformas digitais.
O ensino, que deveria ser um ato criativo e libertador, havia se transformado em um conjunto de metas e indicadores.
O conceito de "pedagogia da métrica", que ela lia nos artigos acadêmicos com desconfiança, virou sua rotina amarga.
O diretor, pressionado pela Secretaria de Educação, cobrava "resultados mensuráveis", como se uma mente humana pudesse ser reduzida a uma nota em um gráfico de desempenho.
Ela se sentia como uma operária em uma linha de montagem, e não mais como uma Mestra.
O mal-estar era físico e moral.
Para complementar a renda, ela precisava de uma "jornada dupla" em outra escola particular, o que significava 60 horas semanais em sala de aula, além das correções em casa.
O piso salarial, garantido por lei federal, era ignorado pelo município, que alegava "limitações orçamentárias".
As homenagens vazias nas redes sociais no Dia do Professor se tornaram um insulto: como podiam elogiá-la por sua "importância" enquanto a transformavam em estatística e negavam a ela um salário digno?
Ana se via cada vez mais distante da sua paixão, cada vez mais perto do diagnóstico de exaustão que assombrava seus colegas.
-O PREÇO DO SILÊNCIO: QUANDO A SAÚDE VIRA ESTATÍSTICA
O conflito atingiu seu ápice em um dia de outubro, ironicamente, perto do seu dia.
Ana estava no meio de uma aula sobre a ditadura militar quando um ataque de ansiedade a paralisou.
O barulho da sala, o cansaço acumulado, a pressão das metas inatingíveis se transformaram em um zumbido ensurdecedor na sua cabeça.
Ela precisou sair.
No atestado médico, a palavra era clara: estresse e princípio de burnout.
A Professora Ana havia se tornado, ela própria, a estatística que o artigo denunciava: o professor exausto, adoecido e invisível.
A sociedade a aplaudia nos posts prontos, mas a culpava silenciosamente pelo fracasso do sistema.
O Estado que a homenageava era o mesmo que permitia o subfinanciamento e a interferência de grandes fundações privadas, cujos "planos de inovação" pareciam sempre subalternizar o saber do professor e transformar a educação em um negócio.
Ana sentia-se um obstáculo a ser removido, alguém que "não motivava" os alunos, quando, na verdade, era ela quem precisava de motivação e, principalmente, de dignidade.
Naquele afastamento forçado, ela confrontou a escolha mais difícil: desistir da profissão que amava ou encontrar uma forma de resistir.
-15 DE OUTUBRO: A DATA QUE DEIXOU DE SER CELEBRAÇÃO PARA VIRAR LUTA
O aprendizado veio da mobilização.
Longe da sala de aula, mas conectada a grupos de professores por todo o país, Ana descobriu que não estava sozinha em sua resistência.
Ela passou a acompanhar o trabalho de entidades como a FINEDUCA e a Campanha Nacional pelo Direito à Educação, que não se contentavam com o "tapinha nas costas" e exigiam o cumprimento da lei e 10% do PIB para a educação pública.
Ana percebeu que o 15 de Outubro não era um dia para esperar parabéns, mas para denunciar e reivindicar.
A data era um lembrete cruel: a dignidade de ensinar não seria devolvida por um elogio genérico, mas pela luta coletiva por recursos, estrutura e o fim da pedagogia da métrica.
Ela aprendeu que, enquanto o professor fosse visto como mártir, e não como sujeito pensante, a educação serviria ao mercado, e não à cidadania.
A resolução não estava em aceitar a realidade, mas em transformá-la.
Aquele dia não era de comemoração vazia, mas de consciência crítica.
Ana decidiu voltar à sala de aula, não mais como a heroína solitária de antes, mas como parte de um movimento.
E você, qual seria o próximo capítulo na história da Professora Ana e da luta pela dignidade docente no Brasil?
Ariano Suassuna:
"O otimista é um tolo. O pessimista, um chato. Bom mesmo é ser um realista, com esperança."
"A tarefa de viver é dura, mas fascinante."
"Tenho duas armas para lutar contra o desespero, a tristeza e até a morte: o riso a cavalo e o galope do sonho. É com isso que enfrento essa dura e fascinante tarefa de viver."
"O sonho é que leva a gente para a frente. Se a gente for seguir a razão, fica aquietado, acomodado."
Mário Quintana:
"Nascer é uma possibilidade. Viver é um risco. Envelhecer é um privilégio!"
Salmos 90:12:
"Ensina-nos a contar os nossos dias para que o nosso coração alcance sabedoria."
Comentários
Postar um comentário